eles pensaram nas cortinas de flores
e esconderam a vida real
as casas meio tortas
os homens sem trabalho
as mulheres e seus chinelos
as crianças pelas ruas
é bonito ver o arco-íris passando pela janela do carro
os olhos gostam
mas não se contentam
procuram as frestas
por onde a realidade sai espremida
Dulce
Uso palavras emprestadas para dizer quem sou Encontro sempre um modo de parecer quem quero Quando meio Adélia invento um passado e mostro-me mulher madura Noutro dia sendo Clarice encontro mistérios em mim Florbela é o auge da intenção de desnudar-me sangrenta Brinco de inventar com o Rosa Simplifico sentimentos ao parecer Quintana Valso com Chico ao sentir-me mulher Drummond me ajuda a carregar o mundo E vou assim tal qual personagem sem rosto
terça-feira, 31 de agosto de 2010
domingo, 29 de agosto de 2010
cabem em mim os que passam
ao lado
ao largo
atentos
ao contrário...
sempre estarão
por dentro
saindo aos poucos
fugindo pelas frestas
ou quando a porta abre de repente
viram personagens
assumem o discurso
fingem outras vidas
e também eu
finjo não reconhecê-los
apresento-me
e eles acanhados
mudam a voz
a cor do cabelo
tossem nervosos
e estrategicamente
deixo-os a vontade
dulce
ao lado
ao largo
atentos
ao contrário...
sempre estarão
por dentro
saindo aos poucos
fugindo pelas frestas
ou quando a porta abre de repente
viram personagens
assumem o discurso
fingem outras vidas
e também eu
finjo não reconhecê-los
apresento-me
e eles acanhados
mudam a voz
a cor do cabelo
tossem nervosos
e estrategicamente
deixo-os a vontade
dulce
antes um percurso
de idas
voltas
de paradas obrigatórias
ou total liberdade para seguir
que a permanência
consciente
no irrealizado
como saber o que vem depois
de que modo condenar o destino
sendo o último caminheiro da trilha
voltando
apagando pegadas
deixando a história perder-se
por conta do desejo de não ser mais?
talvez nada disso seja suficiente
para julgar a vida culpada
dulce
de idas
voltas
de paradas obrigatórias
ou total liberdade para seguir
que a permanência
consciente
no irrealizado
como saber o que vem depois
de que modo condenar o destino
sendo o último caminheiro da trilha
voltando
apagando pegadas
deixando a história perder-se
por conta do desejo de não ser mais?
talvez nada disso seja suficiente
para julgar a vida culpada
dulce
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Um dia as rolinhas que se hospedaram na varanda partiram
não de repente como se espera
mas anunciando a ida
A mãe cuidadosa preparou seus pequenos
deu-lhes a força necessária
a firmeza da confiança
do inevitável
Nada seria diferente
nunca
Sabia do dia em que eles se soltariam
voariam com suas asas
que estavam cumprindo o seu papel
natural
Nenhum sofrimento
apenas o ritual
da separação
para a continuidade
A mãe e os pequenos
tranquilamente viveram
o primeiro voo
dos muitos outros por vir
Nesse dia vi asas nas meninas
e entendi tudo
Dulce
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Contornava com muito cuidado
as voltas do corpo oferecido
nudez clara
comovente
de relevo delicado
calmo
imóvel
lugar estudado de longe
nas noites inquietas de desejo
Estava ali
a certeza de um amor
que traçou caminhos imaginários
desenhou mapas precisos
escapou de encontros reais
Pela primeira vez
não inventava histórias
nem ocupava o silêncio com palavras moldadas a cera
O toque dos dedos
e o arrepio da pele
teciam o seu melhor texto
Dulce
as voltas do corpo oferecido
nudez clara
comovente
de relevo delicado
calmo
imóvel
lugar estudado de longe
nas noites inquietas de desejo
Estava ali
a certeza de um amor
que traçou caminhos imaginários
desenhou mapas precisos
escapou de encontros reais
Pela primeira vez
não inventava histórias
nem ocupava o silêncio com palavras moldadas a cera
O toque dos dedos
e o arrepio da pele
teciam o seu melhor texto
Dulce
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