sábado, 31 de agosto de 2013

Portão II




no portão se apresentaram
entre os muros da casa cor de laranja
e a rua de paralelepípedos
a moça ficava encantada com as palavras dele
e esperava pelo outro dia
com as outras histórias
o rapaz abria o portão com delicadeza
mostrava a ela as curvas de ruas imaginárias
os sonhos possíveis em lugares desconhecidos
ela ouvia
devia falar pouco
porque até hoje guarda embrulhados em papel bonito
com fita de seda e tudo
os presentes que ganhou do moço
palavras arrumadas com cuidado
e um mapa de traços finos mostrando o caminho
que de certo
menina ainda
teve medo de seguir






Portão I

portão era lugar de entrada
não de saída
por lá o mundo inteiro chegava
pelas bocas dos vizinhos
nas manchetes de jornal
escrito nos livros vendidos na porta
entrava de tudo
e ela não saía
esperava o outro dia
as notícias mais novas
o sol menos quente
e a noite tranquila daquele tempo
a rua ia até a esquina
além era longe demais
e ela menina esperava
com os pés pra fora
e corpo protegido pelo portão entreaberto

aprendeu a escrever na confusão
bem no meio do redemoinho de ideias
nos dias de se ter vontade de gritar
e o jeito é engolir quieta
ninguém ensinou
nem leu seus escritos
é dela
mania de quem guarda palavras entre os dedos
dentro dos livros
no cantinho do quarto
debaixo do colchão
na gaveta de calcinhas
penduradas no varal depois da chuva
mania dela
nem sabe quando começou
acha palavras em todo lado
quando arruma os armários é dia de festa
elas saltam brincando com as memórias
chamando o passado pra brincar
quando o tempo é de calmaria
elas se organizam em fila
falam baixinho
e pedem pra a moça ficar quieta
longe do papel
a cabeça mesmo dá conta delas
feito lugar onde todo mundo senta e espera
com bons modos
palavra que é danada não se acerta com isso
escorrega dos bancos
cai no chão perto dos pés da moça que quase pisa nela
e pede pra virar história
sempre que pode
a moça atende