sábado, 26 de novembro de 2011

fez igualzinho mandaram
pegou dicionário
meteu na mochila e foi
nem precisou
quando não sabia o que era
buscava nome da cabeça
explicava sentido pelo cheiro
botava ouvido grudado pra reproduzir som
aprendeu tanto com isso
que desandou a ensinar
escrevendo nos muros da cidade
pra ninguém carregar peso nas costas
bastava olhar pra fora da janela
e lá estavam elas
as palavras desenhadas
com significado do lado
e prazer maior ainda
era contar pra todo mundo
que era de mentirinha
era coisa da cabeça
da cabeça de poeta
herança de uma avó de longe
habilidosa com as linhas
bordava que era uma beleza
cada lindeza de desenho fazia
veio daí o jeito da moça

com boa mão pra bordar palavras
gosto de ficar bem cheia
gorda de ideias
entupida de palavras
fica fácil assim
de traduzir sentimento
e rascunhar a vida
é bom pro cotidiano
porque acordar cuspindo palavras que sobraram do sonho
faz o dia mais bonito
aprendi com  Manoel
o de Barros
a olhar as coisas de pertinho
sentir
a desaprender
e fazer de novo
e sempre
recortando
colando pedacinhos inusitados
entendendo melhor o que os sons das letras dizem
desaprendi com o Manoel
a crer nas convenções
a mania de corrigir invenção de qualquer gente
a  rabiscar de vermelho palavras dos outros
a rir do esquisito
com ele
o Manoel
peguei mania
de parar um tempão perto de árvore
e virar lagarta
de tomar banho de rio só pensando 
pedra rio lagarta amor parede menino
tudo depois vira palavra
tudo se desvira em palavra
e torna a virar
até a roda engordar
porque chamou todo mundo
pra dentro
pro centro
até cada um inventar a sua
e ter desjo de escrever no limo
escorregar na terra molhada
enfeitar frase com prefixos coloridos
e finais inesperados
palavra é boa se desperta vontade de brincar

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

quero suas palavras
soltas
desterro
a raiz passando pela terra
e de tanto querer ficar
endurece e quebra
deixa de herança
algum pedacinho que torna a crescer
com outra forma
de outras gentes
quando um dia resolverem mexer com cuidado
encontrarão um pouco de quem se foi
pelas mãos de alguém
dar um tempo pra ela
é deixar tudo como está
sem mexer nas gavetas
nem pendurar roupa na corda
deixar como está
talvez um dia resolva
ainda não acabou o luto
faltam rituais
despedida
dizem

terça-feira, 22 de novembro de 2011

molhei os pés no mar
como antigamente
lembra?
mar
lugar de guardar lembrança
de você

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

fertilidade de mulher madura
faz nascer poema

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

a moça disse pra ela não ter raiva
e ela não tem
raiva não
quando muito
sente pena
lembra direitinho do dia que escolheu sua máscara
meio esquisita
não cobria todo o rosto
sempre deixava um pouquinho dela a mostra
nem sempre reparavam
que os traços não eram os mesmos
quase nunca notavam
a menina com sua máscara
com as mãos ele molda o corpo da mulher
um novo corpo
acordado pelo olhar
por poucas palavras
e muito desejo
quando Maria pensa em João
já não suspira
nem faz diálogos imaginários
agora
quando Maria pensa em João
nem se imagina naquela história
gosta do livro
de seu cheiro
do peso sobre ela quando se deita
na cabeceira
o mais recente se mostra orgulhoso
por dividir com ela a intimidade
gosta do livro
e de guardá~lo pra sempre
como herança
testamento
testemunho de suas fases
mudanças
desde pequena gosta de livros
e de histórias
louvado seja o celular
e suas chamadas
e boas notícias
logo de manhã cedinho
como viver sem saber
na mesma hora
que alguém divide o instante com você
de longe
andar pelo centro do Rio
é meio que mergulhar num caldeirão
de feijoada
bem temperada
sem poupar o sal

terça-feira, 15 de novembro de 2011

mania de tirar esmalte bonzinho da unha
e pintar de novo
será vontade de se olhar de pertinho?
quando ela chora
porque tá triste
é igual lavar cozinha depois de fritar bife
fica tudo limpinho
mas quando faz as duas coisas ao mesmo tempo
é porque o negócio tá feio
dia comprido
guarda tanto pensamento nele
a cabeça vai
volta
e o dia não acaba
a buzina do carro de trás 
tirou a mulher do sinal
tirou a mulher do sonho

sábado, 12 de novembro de 2011

Diadorim é neblina
confunde
atordoa
chama desejos
suaviza o coração de Riobaldo
mas a vida não espera
os que têm medo
da entrega

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

falta nome
caro Rosa
pra muita coisa falta nome
mesmo inventado
é urgente o nome
pra copiar no caderno
e contar por aí
comemorar na data certa
tirar foto e botar na internet
falta nome
caro Rosa
mas não falta vontade
sabe lá se tudo é verdade mesmo
ou ela ainda brinca de amar escondido
sozinha
ofereceu a ele seus seios
e acabou com a falta de amor
dos dois
e pra ele se fez de novo mulher
nua
na claridade da manhã
pelo cheiro sabia da sua volta
estava lá
marcado
como se esparasse a hora
e chegou
fazendo o dia e a noite
valerem a pena
me deixo
ir
com você
serenamente
como há muito não fazia
e vou além
das minhas ideias guardadas
da mania de sonhar todo dia
estou pronta e certa de
ir
com você

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

o amor é visceral

domingo, 6 de novembro de 2011

o amor é curvilíneo