terça-feira, 16 de abril de 2013

deixei o controle remoto na mesa
não quis trocar de canal
já sabia o final do filme
e fiquei ali
estática
nem sabemos de nós
daquilo que pensamos ainda estar por aqui
da história de antes
do peito apertado
do beijo roubado nos sinais com o carro parado
da menina
do rapaz
quando inventamos um presente
ou falamos horas de outras pessoas
trazemos personagens de outros tempos
se de verdade aguentamos viver agora
o que ficou pra depois
e mesmo se esse depois já está
dos dias da vida
do que gostamos de comer
de nossos lugares preferidos
da cor da parede do quarto
e quantas portas tem nossos armários
se bebemos ou fumamos escondido
ou se ainda gostamos de banho de mar
a hora de acordar
qual filme vimos outro dia
e em que lugar compramos as frutas
nem sabemos de nós
e insistimos
em silêncio




vem e fala
esse silêncio de medo consome a poesia
tira as palavras do seu lugar
desbota o papel
vem
nem precisa ser sempre
pode vir às vezes
e traz as palavras na boca
e entre os dedos as linhas
entrelinhas