domingo, 29 de março de 2015



orai e vigiai
discursam ofendendo o divino com suas blasfêmias
como se o imperativo fosse perfeito
e dele viessem os atos com precisão
interrompendo a ordem natural das coisas
com o falso poder de estagnar vidas
purgando seus atos infames na nossa cara
com seus dedos indicadores
e bocas impregnadas de insultos
banalizando o sagrado
vivendo pelas beiradas o seu íntimo destino
de canastrões traidores de suas próprias verdades
os donos da língua e das palavras corretas
(des)qualificando de acordo com sua bondade tramada
os de vida dupla
aqueles que se despem frente ao possível bote sobre a presa


que nossas preces nos resguardem dessa gente
sendo com rezas e rituais
ou nos silêncios escondidos pela labuta de todo dia confirmando a fé nos homens


louvada seja a delicadeza dos encontros com o sublime
e bendita a permanência do humano em nós




sábado, 28 de março de 2015

a barriga cresceu tanto que furou a parede
desceu as escadas
ganhou a calçada
e olhou para os dois lados antes de atravessar a rua

hoje já vai longe
mandou mensagem dizendo que está tudo bem




a moça sambou pela casa com música emprestada do vizinho
já fez isso antes
aliás
de uns tempos pra cá tem repetido coisas que já fez noutro tempo

me contou que tá gostando

chega
com calma
e fica como se não tivesse muito tempo
quem pensa que já sabe tudo
se engana
cada um aprende é no arrepio da pele mesmo



sábado, 7 de março de 2015

se antes o dia começava gritando sua lista de afazeres
agora
generoso
espera por mim com a tranquilidade de final de semana

sexta-feira, 6 de março de 2015

não usava internet no celular
fora de hora ligava pra ela
estranho esse hábito
talvez fosse por isso que quando ao lado
com a boca em sua orelha
tivesse mais o que fazer
o liquido vermelho escorria pela porta da cozinha
era o tinto para o jantar
não importa
mais se tem a tingir a noite
e foi ao armário onde ficam os batons
gosta da beleza dele
dos braços
das costas
das mãos
das pernas
das partes que tocam nela
gosta dele assim
como quem prova cada pedaço
e descobre gostos
e espalha cheiros
gosta dele agora
quando pensa




sei do meu decote pelos seus olhos
hoje estavam profundos
encosto o nariz no seu peito e reconheço
no amor que acabamos de fazer 
no calor do quarto
na nossa cara de quem ficou feliz
de repente
no meio da tarde
sem ter feito plano algum
como é bom ter 50 anos agora
deixou que lhe abrisse a porta
empurrou o cesto com as revistas
e sentiu cheiro de roupa limpa na corda
a casa era boa
quase sem móveis
e um tapete colorido cobrindo o chão cinza convidava a ficar
era isso
o colorido do tapete
ele mudou