um dia deu com ela na rua
sempre assim
de uma hora pra outra assim
querer o justo
saber da serventia da luta
do dia
e do outro dia também
insistir no sonho
apoquentar quem não levantou ainda
condenar o injusto
cresceu olhando tudo de perto
curiosa
guardou a vontade pra contar depois
e foi
sozinha
singular
abandonou as certezas
desconfiada de que pode dar certo um dia desses
por mais que se repitam os nomes
as palavras de ordem
as esperas pela respostas
tudo é inédito
e a aula inaugural é no meio da praça
Dulce Moura
Uso palavras emprestadas para dizer quem sou Encontro sempre um modo de parecer quem quero Quando meio Adélia invento um passado e mostro-me mulher madura Noutro dia sendo Clarice encontro mistérios em mim Florbela é o auge da intenção de desnudar-me sangrenta Brinco de inventar com o Rosa Simplifico sentimentos ao parecer Quintana Valso com Chico ao sentir-me mulher Drummond me ajuda a carregar o mundo E vou assim tal qual personagem sem rosto
segunda-feira, 24 de março de 2014
o corpo se encheu de dias
meses
guardou tudo pra contar depois
esteve quieta
usando o tempo sem a pressa de sempre
voltava pra casa abria a porta tirava as sandálias
pisava diferente
pensava sortido
desabituou do aperto no meio do peito
comia menos pão
mas tinha desejo de manga
do sumo doce
trocou de rua
evitou algumas esquinas
e esticou caminhos
viu firmeza no agora
da janela
paisagem distinta
um pouco menos de céu
mais telhados
outras narrativas por nascer
essa mudez por enquanto
conserva as palavras
prepara igual gravidez
Dulce Moura
Assinar:
Postagens (Atom)