e na ciranda brincavam de gente grande
acreditavam nos escritos teóricos
arquitetavam planos de saída impossíveis
e continuavam na roda
trocando de mãos
de pares
fingindo não perceber
cobertos por véus de seda
acompanhados pela música
que voltava
a cada passo em falso
Uso palavras emprestadas para dizer quem sou Encontro sempre um modo de parecer quem quero Quando meio Adélia invento um passado e mostro-me mulher madura Noutro dia sendo Clarice encontro mistérios em mim Florbela é o auge da intenção de desnudar-me sangrenta Brinco de inventar com o Rosa Simplifico sentimentos ao parecer Quintana Valso com Chico ao sentir-me mulher Drummond me ajuda a carregar o mundo E vou assim tal qual personagem sem rosto
sábado, 30 de abril de 2011
quarta-feira, 27 de abril de 2011
menina
cabelo molhado
pingos borrando o rímel
não contava com a chuva
sempre com pressa
faz trato com o tempo
de repente
não dá
atrasa
e ele lá como antes
ficava
esperava
marcava os minutos
os passos que faltavam
ela também
cúmplice
no meio dos outros
dos desconhecidos
como no cinema
o foco nela
o zoom nele
a cidade em volta
música não se ouve
nem sinos
e eles lá
num encontro marcado
sabe-se lá por quem
pelo destino
ou aquela roda viva do Chico
trazendo o destino prá cá
de novo
cabelo molhado
pingos borrando o rímel
não contava com a chuva
sempre com pressa
faz trato com o tempo
de repente
não dá
atrasa
e ele lá como antes
ficava
esperava
marcava os minutos
os passos que faltavam
ela também
cúmplice
no meio dos outros
dos desconhecidos
como no cinema
o foco nela
o zoom nele
a cidade em volta
música não se ouve
nem sinos
e eles lá
num encontro marcado
sabe-se lá por quem
pelo destino
ou aquela roda viva do Chico
trazendo o destino prá cá
de novo
sábado, 23 de abril de 2011
rola nas esquinas
numa conversa ou outra
com o copo na mão
depois de cumprir com a obrigação pro santo
arrepio de dia inteiro
força das palavras e das canções
espera ansiosa
depois dos pedidos
agradecimento
pelas graças atendidas
povo
mistura confusa aos olhos de fora
compreensível ternura pra quem está aqui
alvorada
nascer de mais esperança
e gira
e confia
sem isso não seríamos
assim tão cheios de fé
tantos ao mesmo tempo
num só
com mágoas guardadas
vencedores desconhecidos por aí
guerreiros como o santo escolhido
por fora das convenções
dos arranjos
quem sabe de nós é a vida
descoberta nos encontros
remendada quando preciso for
na cor vermelha
nos sons fortes do terreiro
nas mãos pro alto na igreja
um só pedido
um só agradecimento
que vem da espinha e não passa pelas teses dos intelectuais
e se passa é só uma ideia
muito descolorida
da verdade
salve!
salve quem acredita no calor das mãos
na benção que vem de longe
na rebeldia dos que venceram
e resguardaram sua crença
Dulce
domingo, 10 de abril de 2011
se a moça tá diferente
vê lá o que ela traz no balaio pesado
remexe
é certo ter coisa boa
faz tempo tá tudo lá dentro
fita de cabelo
santinho da comunhão
vidro de perfume vazio
fotos de quem não quer esquecer
uma música repetida nos dias de abrir janela e tirar o pó da casa
nome de gente
cartão da viagem
poemas de amor
nome de bicho
e de planta também
benzeduras pra mau olhado
um monte de palavras perdidas
que bem arrumadinhas contam histórias
se a moça tá diferente
chega perto com jeitinho
que na barra da saia de renda
tem um nome costurado com linha de ouro
um mimo
cada letra desenhada tão diferente como a moça
disseram que dá sorte
e ela acreditou
sábado, 9 de abril de 2011
se a moça tá diferente aproveita vê lá o que ela traz no balaio pesado remexe é certo ter coisa boa no meio de tudo no mexido dos anos uma fita de cabelo vidro de perfume vazio umas folhas de caderno com letra bem feita as fotos de quem valeu guardar os traços uma música repetida nos dias de cantoria nome de gente de bicho de planta pra curar mau olhado um monte de palavras perdidas que juntando bem contam histórias e numa anágua de renda usada por baixo da saia ela guarda um nome costurado com cuidado nome daquele que fez dela assim tão diferente
dulce
dulce
Diego Rivera
dulce
se ajuda teve
foi pra curvar
descer até o possível
e nos joelhos marcados
contar as vezes do sim
muitas
do não nem se lembra
só por dentro
quando sobrava dia pra sentir
foi assim levando
sem saber do depois
dia depois de dia
e a noite curta e escura pra tanto sonho
de encher um saco
pesado
pra se gastar aos poucos
na lida do dia
enquanto podia
limpar suor com a manga da camisa
e deixar o olho marejado
molhado de desejo
seco de vontade
de viver
pra além dali
onde o possível existisse
e fosse maior que aquele pedaço
de vida
de fresta
pintada igual parede caiada
fraquinha
que vai com o tempo
com a chuva
e fica seca com sol
dulce
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