sábado, 30 de abril de 2011

e na ciranda brincavam de gente grande
acreditavam nos escritos teóricos
arquitetavam planos de saída impossíveis
e continuavam na roda
trocando de mãos
de pares
fingindo não perceber
cobertos por véus de seda
acompanhados pela música
que voltava
a cada passo em falso

quarta-feira, 27 de abril de 2011

tinta fresca
cuidado
não encoste
que pode até colorir
sua vida cinza
borrar de vermelho
amarelo
violeta
cuidado
a mancha
pra sair vai ser difícil
menina
cabelo molhado
pingos borrando o rímel
não contava com a chuva
sempre com pressa
faz trato com o tempo
de repente
não dá
atrasa
e ele lá como antes
ficava
esperava
marcava os minutos
os passos que faltavam
ela também
cúmplice
no meio dos outros
dos desconhecidos
como no cinema
o foco nela
o zoom nele
a cidade em volta
música não se ouve
nem sinos
e eles lá
num encontro marcado
sabe-se lá por quem
pelo destino
ou aquela roda viva do Chico
trazendo o destino prá cá
de novo

sábado, 23 de abril de 2011



rola nas esquinas
numa conversa ou outra
com o copo na mão
depois de cumprir com a obrigação pro santo
arrepio de dia inteiro
força das palavras e das canções
espera ansiosa
depois dos pedidos
agradecimento
pelas graças atendidas
povo
mistura confusa aos olhos de fora
compreensível ternura pra quem está aqui
alvorada
nascer de mais esperança
e gira
e confia
sem isso não seríamos
assim tão cheios de fé
tantos ao mesmo tempo
num só
com mágoas guardadas
vencedores desconhecidos por aí
guerreiros como o santo escolhido
por fora das convenções
dos arranjos
quem sabe de nós é a vida
descoberta nos encontros
remendada quando preciso for
na cor vermelha
nos sons fortes do terreiro
nas mãos pro alto na igreja
um só pedido
um só agradecimento
que vem da espinha e não passa pelas teses dos intelectuais
e se passa é só uma ideia
muito descolorida
da verdade
salve!
salve quem acredita no calor das mãos
na benção que vem de longe
na rebeldia dos que venceram
e resguardaram sua crença

Dulce

domingo, 10 de abril de 2011

Foto de Thiago Antunes

quando o movimento ainda se ensaia

nota-se a parte

olhar fixo

e o flash

rápido instante capturado

como na vida

nos dias corridos

percepção

a emoção resgatada

ampliada para sempre

pelo toque do artista


se a moça tá diferente

vê lá o que ela traz no balaio pesado

remexe

é certo ter coisa boa

faz tempo tá tudo lá dentro

fita de cabelo

santinho da comunhão

vidro de perfume vazio

fotos de quem não quer esquecer

uma música repetida nos dias de abrir janela e tirar o pó da casa

nome de gente

cartão da viagem

poemas de amor

nome de bicho

e de planta também

benzeduras pra mau olhado

um monte de palavras perdidas

que bem arrumadinhas contam histórias

se a moça tá diferente

chega perto com jeitinho

que na barra da saia de renda

tem um nome costurado com linha de ouro

um mimo

cada letra desenhada tão diferente como a moça


disseram que dá sorte




e ela acreditou





sábado, 9 de abril de 2011

se a moça tá diferente aproveita vê lá o que ela traz no balaio pesado remexe é certo ter coisa boa no meio de tudo no mexido dos anos uma fita de cabelo vidro de perfume vazio umas folhas de caderno com letra bem feita as fotos de quem valeu guardar os traços uma música repetida nos dias de cantoria nome de gente de bicho de planta pra curar mau olhado um monte de palavras perdidas que juntando bem contam histórias e numa anágua de renda usada por baixo da saia ela guarda um nome costurado com cuidado nome daquele que fez dela assim tão diferente

dulce
Diego Rivera
se ajuda teve

foi pra curvar

descer até o possível

e nos joelhos marcados

contar as vezes do sim

muitas

do não nem se lembra

só por dentro

quando sobrava dia pra sentir

foi assim levando

sem saber do depois

dia depois de dia

e a noite curta e escura pra tanto sonho

de encher um saco

pesado

pra se gastar aos poucos

na lida do dia

enquanto podia

limpar suor com a manga da camisa

e deixar o olho marejado

molhado de desejo

seco de vontade

de viver

pra além dali

onde o possível existisse

e fosse maior que aquele pedaço

de vida

de fresta

pintada igual parede caiada

fraquinha

que vai com o tempo

com a chuva

e fica seca com sol

dulce




sexta-feira, 8 de abril de 2011


as palavras vão meio do avesso

sem pontos

nem vírgulas

com poucos acentos

pra chegar mais rápido

enquanto você ainda está por perto

dulce