ela flui
com prazer

lia Guimarães
amava palavras
um dia descuidou-se
e de repente
lá estava a felicidade

antes que eu me arrependa
venha
fique o tempo que for
a gente não conta nem pro vento
não se prenda a nada
deixe tudo branco
leve
muito suave pra não doer
se depois alguém tiver que ir

não se previna de mim
deixe que eu entre
e rabisque as folhas guardadas
as fotos
os documentos que provam a vida
não se preocupe comigo
eu insisto em tentar
e não deixar de novo pra trás
a vontade

palavras
e mais e mais
palavras
amontoadas
saindo sem sentido pra você

sinceramente
ela mente
sente aqui
ouça histórias
algumas sérias
outras inventadas pra se rir da verdade
sinceramente
ela mente que nem sente

com braços fortes
mãos frias
coração batendo de se ouvir
chegou
conduziu a mulher para dentro de um mundo novo
de horas longas
com muito tempo
calma
tempo pra se encontrar
e ficar sem pressa

fingiu que ouviu conselho
não tome decisões por agora!
como não?
se é só acordar pra ter que escolher
decidir se fica ou vai
contrariou a lógica
as regras de sempre
e foi

nada melhor que frio na barriga
pra aquecer coração

a menina chegou sem cerimônia
entrou já tirando as sandálias
abrindo geladeira
revirando armário
sem estranhar
como se de tudo soubesse
e mesmo tão menina
parecia ter passado bem cheio
de vida e histórias

traços
discreta intenção
delicadeza
idéias bem leves
e de tão leves
saem voando
pelas orelhas
escorrem pelos olhos e nariz
abrem a boca num sussuro
cobrem de rosa as bochechas
e vão
esbarrando e pedindo desculpas
por estarem soltas sem dono e mando

qualquer lugar
que não seja este
da indiferença
da vaga lembrança
que seja fantasia
fuga
que seja loucura
busca
qualquer outro lugar
que não seja igual
ao bocejo
e ao corpo pesado
qualquer que seja o lugar
mas que venha