Vago sempre
mesmo quando querem me prender
Árduo é não me deixar perder no vácuo
Uso palavras emprestadas para dizer quem sou Encontro sempre um modo de parecer quem quero Quando meio Adélia invento um passado e mostro-me mulher madura Noutro dia sendo Clarice encontro mistérios em mim Florbela é o auge da intenção de desnudar-me sangrenta Brinco de inventar com o Rosa Simplifico sentimentos ao parecer Quintana Valso com Chico ao sentir-me mulher Drummond me ajuda a carregar o mundo E vou assim tal qual personagem sem rosto
sábado, 13 de dezembro de 2008
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Meninas
Para elas o mundo partiu dali
Das paredes pintadas com cuidado
Das fotos arrumadas como histórias
Foi daquele começo
De todas as horas marcadas por uma rotina confusa
Da mãe ansiosa pela vida
Temendo a incerteza
Do pai de presença leve
Aguardando as coisas acontecerem
Muito se viveu de tudo
Falaram de quase todas as coisas
com humor
sem nenhum pudor
Entederam-se
Buscaram respostas difíceis
Tatearam caminhos por si mesmas
Cresceram com o prazer necessário à vida
Agora ainda no meio do caminho
Talvez percebam melhor e criem sua própria história
Recontem os fatos
Ajudem nas escolhas
Das paredes pintadas com cuidado
Das fotos arrumadas como histórias
Foi daquele começo
De todas as horas marcadas por uma rotina confusa
Da mãe ansiosa pela vida
Temendo a incerteza
Do pai de presença leve
Aguardando as coisas acontecerem
Muito se viveu de tudo
Falaram de quase todas as coisas
com humor
sem nenhum pudor
Entederam-se
Buscaram respostas difíceis
Tatearam caminhos por si mesmas
Cresceram com o prazer necessário à vida
Agora ainda no meio do caminho
Talvez percebam melhor e criem sua própria história
Recontem os fatos
Ajudem nas escolhas
INCONDICIONALMENTE
O grito do gol é o início do prazer
que se estende por muito tempo fora das quatro linhas.Marca fases.
Traz com ele momentos do menino com o pai.
Concentra os dias e quando sai da garganta
cortando os medos,
dribla os pesadelos da vida real.
Já homem, guarda as histórias,
ganha ares de guerreiro,
desculpa derrotas e comemora exaustivamente as vitórias.
Ele também vai à guerra,
faz da camisa um escudo e enfrenta adversários.
Admira cada lance
como um quadro: as nesgas e luzes, a textura apropriada, a cor exata.
Guarda na memória.
E é com os seus
no meio da arquibancada
que se completa
se vê como igual.
Ali as diferenças se rompem.
Ele é o mesmo de sempre
coração no (des)compasso certo
sem desistir ou desculpar-se
por seu amor incondicional.
Isabel
Já falei dela outras vezes
do seu encanto pelo natural
do medo de se perder por ai
no meio de tanta confusão.
Pés descalços, roupa molhada
cabelos em desalinho
não lhe tiram a graça.
Seus caminhos são outros
desejados de idos tempos.
É nosso elo com o simples
sendo tão requintada no gosto.
Dela não se espere a precisão das horas
a rigidez da vida.
Deixe-a livre.
Deixe-a livre
para ser o que é
para ter o que quer ter
onde quiser
quando escolher.
do seu encanto pelo natural
do medo de se perder por ai
no meio de tanta confusão.
Pés descalços, roupa molhada
cabelos em desalinho
não lhe tiram a graça.
Seus caminhos são outros
desejados de idos tempos.
É nosso elo com o simples
sendo tão requintada no gosto.
Dela não se espere a precisão das horas
a rigidez da vida.
Deixe-a livre.
Deixe-a livre
para ser o que é
para ter o que quer ter
onde quiser
quando escolher.
Cotidiano
Desde cedo na rua. Chegou tirando a roupa e correndo para o banheiro. Era como um ritual. Limpava as sujeiras do dia. O trabalho consumia: incomodando, cutucando o juízo. Quem diria onde iriam parar os sonhos de levar poesia para a realidade dura daqueles com quem dividia sua vida. Passaram-se os anos e quase não se deu conta do tempo. Olhava para o espelho e via sinais. Sabia não poder sair de casa como quem displicentemente acorda e vai. Os olhos marcavam a expressão preocupada, uma noite interrompida pelos contínuos flashes do dia. A água escorria. Não era para lavar o cabelo porque já não secaria antes de dormir. Não deu. Sempre gostou de cabelo molhado. Da janela da cozinha, enquanto esquentava o jantar, podia ver as luzes do morro. Cada vez mais luzes, cada vez mais gente. Lembrou de Drummond e dos amores possíveis por ali. Histórias tão parecidas com tantas outras dos romances lidos desde mocinha. Nesse cenário, nenhum glamour. Nem mesmo a névoa de um voal para trazer a idéia de sonho. Quando ele chegou já encontrou tudo pronto, como sempre foi. A mesma o esperava sem a ansiedade do início, mas sentindo-se bem ao vê-lo. Era seguro estar com ele. Sempre foi assim. Imaginar o contrário chegava a doer. Elogiou o cheiro da comida sem perceber o cheiro bom que vinha da mulher. Tudo tinha o momento certo. Não era a hora para olhares mais atentos, nem mesmo para sensações eróticas. A hora do jantar. Também não cabia o tal sonho. Sonhar também exigia clima. Ao notar que estavam vindo, os sonhos, plantava-se com mais força, determinando o caminho do real. Não era a hora do sonho. Lia sempre. No início descobrindo várias sensações que não tinham nome ainda. Depois, aprendendo a nomear, sentimentos e pessoas inimagináveis. Com o tempo, mesclando obrigação e prazer. Tantas mulheres apresentaram-se nas linhas dos seus livros que nem lembra mais de muitas. Outras, foi por acaso, nas músicas, filmes, por aí que conheceu. Sabe ser delas algumas palavras usadas por descuido. Também delas um olhar ou outro mais atento diante de situações aparentemente corriqueiras. Eram suas as epifanias das personagens de Clarice. A casa alaranjada de Adélia era igualzinha a sua do Encantado. Mulheres! E as personagens que se desnudavam nos filmes. Frida, Piaf, Carmem... Tantas dores e profundidade no viver... Era bom saber que se amava tão profundamente. Ela não sabia se havia concretizado esse desejo de amar até não poder mais. Amava no sonho. Tinha hora certa. Hora desejada pelo cansaço. Não agüentava sonhar muito, que o sono vinha rápido. Antes da história tomar rumo certo. Era assim. Tudo pronto para eles. Se demorasse um pouco mais a comida queimava. Panelas boas e bom fogão adiantam a vida, encurtam o sonho.
Apesar de você ainda pode ser que eu vá
até dentro de mim
Sem medo de perder o rumo
como quem vai encarando os rostos
daqueles que não se conhece
Apesar de você ainda pode ser que eu deixe
as amarras da semana
Encare o domingo como o primeiro dia
procure abafar o cansaço
da batida do cotidiano
Apesar de você ainda pode ser que eu entenda
que ainda há tempo de sonhar acordado
marcando as cenas de um filme de amor
sem nenhum pudor dos momentos mais quentes
Apesar de você ainda pode ser que eu tente
encontrar desvios nesse tal destino
e me vista de estampado com o cabelo molhado
e saia por aí sem culpa
até dentro de mim
Sem medo de perder o rumo
como quem vai encarando os rostos
daqueles que não se conhece
Apesar de você ainda pode ser que eu deixe
as amarras da semana
Encare o domingo como o primeiro dia
procure abafar o cansaço
da batida do cotidiano
Apesar de você ainda pode ser que eu entenda
que ainda há tempo de sonhar acordado
marcando as cenas de um filme de amor
sem nenhum pudor dos momentos mais quentes
Apesar de você ainda pode ser que eu tente
encontrar desvios nesse tal destino
e me vista de estampado com o cabelo molhado
e saia por aí sem culpa
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