na poesia cabe a vontade de lavar o dia
com a chuva lá de fora
e a alegria aqui
em mim
Uso palavras emprestadas para dizer quem sou Encontro sempre um modo de parecer quem quero Quando meio Adélia invento um passado e mostro-me mulher madura Noutro dia sendo Clarice encontro mistérios em mim Florbela é o auge da intenção de desnudar-me sangrenta Brinco de inventar com o Rosa Simplifico sentimentos ao parecer Quintana Valso com Chico ao sentir-me mulher Drummond me ajuda a carregar o mundo E vou assim tal qual personagem sem rosto
quinta-feira, 23 de junho de 2011
quarta-feira, 22 de junho de 2011
DENIR
Na cabeça da moça cabe tudo:
caldeirão de bruxa
e livro de mil páginas
muitas palavras
e todos os significados
nomes de reis
com seus reinos perdidos
presidentes
e gente misturada na rotina dos dias.
Razão pra pensar tanto
e prazer nisso ela tem.
Não se esconde
vai lá
cutuca
pergunta
e se abre.
Quando sangra
e doi
não se nega
vai lá
limpa do jeito que pode.
Traz tanta coisa com ela
lá dentro:
lugar de poema bonito
conto de amor
menina com laço de fita
salto alto de mulher gostosa
desejo
lamento...
Igual a qualquer uma
o que a deixa tão bonita
é o que nela muda e nem sente.
terça-feira, 21 de junho de 2011
domingo, 19 de junho de 2011
Meu Pai
Ele vive naquela caravela que mal se vê
como quem espera chegar a outra margem
exilado em si mesmo
preso às cores do passado
alheio ao presente.
Homem simples
nem sempre rude.
A espera do reencontro com o tempo perdido
no cheiro da terra pisada com força
no rio de menino guardando os segredos
no irmão
na mãe enfrentando os dias
no pai nunca por perto
no time de futebol
no trabalho para aprender o ofício de ourives.
Já não sabe ao certo quem é
Espelhos antigos confundem as imagens
vê-se velho
percebece-se jovem nas histórias
repetidas sem cansar
alegres como dia de menino
que de tão contadas
aos ouvidos dos outros
chegam melancólicas como o fado.
A felicidade preservou-se num tempo longe
cabe ainda no garoto
nos respingos da água salgada
que o gosto ainda tem na boca.
E o que fez depois perde-se
não vale capítulo no seu livro.
Cumpriu a sina
mas ressente-se
nada fez para mudá-la
aceitou
contra a vontade.
De herança
pensa ele ter deixado
a dignidade
o bastar-se
por ter se feito sozinho
mas não.
Deixa para os de agora
um aperto no peito
o desejo de chegar de vez
cercar a terra
protegê-la do mar
que vez por outra avança
na tentativa de destruir o já conquistado.
Parte aos poucos
cada vez mais só.
A filha o encontra na literatura
nos poemas que falam de mar e saudade
nas palavras portuguesas
em cada detalhe das entrelinhas.
Só assim o decifra
o entende
e ainda o espera em outra margem
a terceira
no lugar do sonho.
Ele vive naquela caravela que mal se vê
como quem espera chegar a outra margem
exilado em si mesmo
preso às cores do passado
alheio ao presente.
Homem simples
nem sempre rude.
A espera do reencontro com o tempo perdido
no cheiro da terra pisada com força
no rio de menino guardando os segredos
no irmão
na mãe enfrentando os dias
no pai nunca por perto
no time de futebol
no trabalho para aprender o ofício de ourives.
Já não sabe ao certo quem é
Espelhos antigos confundem as imagens
vê-se velho
percebece-se jovem nas histórias
repetidas sem cansar
alegres como dia de menino
que de tão contadas
aos ouvidos dos outros
chegam melancólicas como o fado.
A felicidade preservou-se num tempo longe
cabe ainda no garoto
nos respingos da água salgada
que o gosto ainda tem na boca.
E o que fez depois perde-se
não vale capítulo no seu livro.
Cumpriu a sina
mas ressente-se
nada fez para mudá-la
aceitou
contra a vontade.
De herança
pensa ele ter deixado
a dignidade
o bastar-se
por ter se feito sozinho
mas não.
Deixa para os de agora
um aperto no peito
o desejo de chegar de vez
cercar a terra
protegê-la do mar
que vez por outra avança
na tentativa de destruir o já conquistado.
Parte aos poucos
cada vez mais só.
A filha o encontra na literatura
nos poemas que falam de mar e saudade
nas palavras portuguesas
em cada detalhe das entrelinhas.
Só assim o decifra
o entende
e ainda o espera em outra margem
a terceira
no lugar do sonho.
terça-feira, 14 de junho de 2011
e amanhã?
continua
se hoje foi tudo tão bom
tão certo
e amanhã?
por que sempre o depois
se o agora não basta
se o dia sempre é o começo de história
por que não um conto
mínimo
de poucas palavras
bom de ler
fácil
rápido como tudo
por que romance
de muitas páginas
que precisa de tempo
e não o temos
sempre
o tempo
por que pedir mais
se o dia de hoje já valeu
domingo, 12 de junho de 2011
nada mudou
por fora
todos os móveis
os enfeites escolhidos a dedo
as flores trocadas no dia de feira
o cheiro bom de roupa secando
o vento que bate a porta do quarto
o cachorro
o banheiro que precisa de obras
o chão mudou
(mas faz tempo)
nada mudou
só ela
que tranquila passa sem esbarrar nos movéis
mesmo não cabendo mais ali
de tão cheia de idéias
de lembranças
de desejos
mais cheia que a bolsa amarela
aquela das histórias de criança
muito muito cheia de vida
por fora
todos os móveis
os enfeites escolhidos a dedo
as flores trocadas no dia de feira
o cheiro bom de roupa secando
o vento que bate a porta do quarto
o cachorro
o banheiro que precisa de obras
o chão mudou
(mas faz tempo)
nada mudou
só ela
que tranquila passa sem esbarrar nos movéis
mesmo não cabendo mais ali
de tão cheia de idéias
de lembranças
de desejos
mais cheia que a bolsa amarela
aquela das histórias de criança
muito muito cheia de vida
difícil mesmo lidar com palavras
ou se acerta
de primeira
certeira
ou então
é irremediável
nada pra colocar no lugar
faz um buraco enorme
e mais e mais aberto fica
quando remediamos
remendamos com outras
palavras sem sinônimos
com seus sons estranhos
ruim pro ouvido
pior pra dentro
da gente
onde as palavras se guardam
quando chegam de vez
pra ficar
por isso o cuidado
ao entrarem quase sem licença
ficam
doendo ou não
ou se acerta
de primeira
certeira
ou então
é irremediável
nada pra colocar no lugar
faz um buraco enorme
e mais e mais aberto fica
quando remediamos
remendamos com outras
palavras sem sinônimos
com seus sons estranhos
ruim pro ouvido
pior pra dentro
da gente
onde as palavras se guardam
quando chegam de vez
pra ficar
por isso o cuidado
ao entrarem quase sem licença
ficam
doendo ou não
sábado, 11 de junho de 2011
Assinar:
Postagens (Atom)