quinta-feira, 4 de novembro de 2010

o moço parece ter ido
pras bandas certas de estar
se não era pra ela o mesmo
não carecia ficar
dulce
de repente percebeu a bolsa mais vazia
ombros mais leves
passo mais calmo
olhar menos atento
estranhou só quando parou
numa esquina
e escolheu o caminho mais fácil
sem os tropeços conhecidos
um outro lado da rua
o mais liso
na bolsa
o pouco que bastava pra ir


Dulce
Severina

quando veio nem sabia
da dor da cidade
do marido
dos filhos por ter
do trabalho pesado
da vontade de voltar
de achar a mãe
de saber ler
da oração pra acalmar os dias
da crença
dos estudos sem escola
dos sonhos parados no tempo
da lida desde pequena
da falta dos banhos no mar de lá e das músicas de se dançar
do pai com suas ervas
dos bichos no pasto
da terra deixada pros outros
do tanto que já aprendeu
do mais que já ensinou
da saudade
da força que trouxe com ela

Dulce