segunda-feira, 23 de julho de 2012






Roseana

Pensando nela
fui ao dicionário e encontrei a melodia
do grego melōidía, "canção, canto, coral"
sucessão coerente de sons e silêncios
sequência linear com identidade própria.
Poesia também:
do grego poíesis ação de fazer, de criar alguma coisa.
Soam bem os nomes em grego:
melōidía  poíesis...
os sons marcados de cabeça.
Saber de cor,
do latim:
de coração.
Vidade um lado
e de outro.
Alguém precisa chegar
unir
trazer pra perto
a melōidía
a poíesis
e de cor
tecer o texto,
do latim,
Textus, “narrativa escrita”
material tecido.
Quem vem capaz de tecer
com muito cuidado,
insistindo quando o fio parece perder-se?
Texto não é linha sozinha,
é emaranhado.
Sobe e desce,
pra lá e pra cá
como as notas da melodia.
O sentido,
a sequência
de um e de outro;
não se dá sozinho.
É necessário comover:
do Latim  commovere: “perturbar, mover”
verbo que se forma por com- “junto”
mais movere, “mover”.
E ela, como quem lê a partitura,
orienta,
faz valer a melodia.
Como no início,
o verbo.
Dela simples movimentos,
fáceis leituras?
Aparência, senhores!
Nada mais complexo que descrevê-la.
Do grego ao latim....
Dos textos a  partituras...
Complexo, isso sim, meus caros.
Conviver é arte.
Merece um maestro à altura.
E é ela.
Sim, é ela que se coloca como regente.
Organiza.
Torna o sujeito singular,
amoldando-o junto aos outros.
Assim, o que nos parece simples é por demais trabalhoso.
Dá voltas.
Então, o texto
com seus fios
encontra a melodia,
a dela.
Sem ela não há composição.
Cabe a ela inventar-nos.
Fomos concebidos por suas generosas mãos de artista.
Por ela não nos perdemos.

Dulce Moura