terça-feira, 26 de junho de 2012

o rato roeu a roupa
dela
aos poucos
no começo cautelosamente
ela nem percebeu
depois
sem cuidado algum
a nudez disfarçada
o incômodo
sentiu-se só
ela e o rato
não havia rei
Roma era muito longe
ali mesmo
na sala
o rato roeu a roupa
e a deixou entregue
exposta
e agora o que fazer
se nem ao menos é rei
se seus gritos não ecoam
ela
sem o rato
agora escondido atrás dos pedaços de pano
muitos
também de outros
o rato roeu a roupa
e ainda quer mais


domingo, 17 de junho de 2012

o moço das histórias  mal contadas
escondido do presente nos  fios no passado
tem mágoas
prefere lembranças a novos feitos
talvez não tenha lido epopeias
e nem conhecido heróis de mentira
senta e lamenta o não vivido
foge
reconhece o erro de não tentar
e sem muito tempo pra gastar o futuro chega sem ensinar caminho
passa por ele quem está livre
carga muito pesada faz não ir adiante




jurava ser tímido
e não se ressentia
perdas duras
contas mal feitas com o passado
sem controle remoto pra trocar a vida de canal
tudo certo
amanhã tem mais
já sabia contar com a sorte

garota colorida
saia longa
cabelo mais curto e molhado
olhos e argolas grandes
camiseta cortada às pressas antes de sair
sem pintura
ou artifícios
bastavam as cores qre carregava na roupa e na bolsa grande como quem vai para longe

nos dias de sol
andavam por ai
de mãos dadas
nos de chuva
deixavam escorrer pela janelas gotas grossas
olhavam
calavam por trás da vidraça
não tinham o que fazer
sem a rua e a platéia
não sabiam ser naturais
era mulher de correr mundo
escrever e-mails longos
detalhes dos dias a sós
fotos
endereços dos bons lugares
lista de compras
requintes percebidos pelos olhos brilhosos
discurso pronto pra volta
independência
liberdade
ninguém a prende
a não ser ela mesma nas suas malas leves
e seu coração apertado

quarta-feira, 6 de junho de 2012

conversando com Clarice
descobri que não ando passando pelos outros
nem como brisa
muito menos como ventania
isso me preocupa
odeio ser vento morno

Dulce Moura
ou você se enquadra nas molduras prontinhas
que nem têm suas medidas
e muitas vezes apertam aqui e ali
desconforto
ou sinta-se livre pra responder o porquê de sua esquisitice

Dulce moura

terça-feira, 5 de junho de 2012

sempre tem uma porta aberta
das que mal conseguem segurar o vento lá fora
ora são convite pra entrar
sentar na cozinha e tomar café quente
outras vezes inibem o passante
mostram pouco
 a mesma porta pintada de branco
por muitos dias no caminho
pedindo pra parar e aceitar o pedido
mas também se pode alargar o passo e não entrar
desenhar na cabeça a xícara
até sentir o cheiro do café
 e deixar pra depois
pensando que o tempo da conta de tudo
 nem sempre
pois quando se volta atrás
pode o gosto não  ser o mesmo
Dulce Moura
infinitamente
palavra grande
igual quando a gente espera
guardando no avesso
a vontade

Dulce Moura