Para Fernanda e Isabela
A história chega numa dessas conversas de sempre
No meio da tarde, no encosto do sofá.
Voltamos às primeiras mulheres:
as da família.
Até onde vai a memória da herança
com suas vidas paradas no tempo?
Surpreendendo com seus traços em nós:
na expressão do olhar, no contorno do nariz.
Quando não se reconhece na mãe as argolas do cabelo,
as ancas mais salientes ou o gosto pela ciência...
estão todas em nós por sermos eternas.
Talhadas pelos dias e seus encontros sem querer.
Reconhecemos os cenários e seus cheiros,
os sons e uma névoa incoveniente.
O encanto pelos cavaleiros e astronautas
e os pergaminhos via internet.
Algumas marcas escolherão a hora de voltar.
Qual de nós a escolhida pelo gênio audacioso
ou pela doçura guardada no lenço de linho?
Para a sobrevivência, o pacto naturalmente feminino:
o de guardar a história das que não conheciam palavras,
até agora, a hora da descoberta do eterno:
do corpo e da alma,
da ciência e da poesia.
Numa dessas conversas de sempre
quando as filhas chegam e falam dos livros,
das mitocôndrias e mulheres.
Dulce
Uso palavras emprestadas para dizer quem sou Encontro sempre um modo de parecer quem quero Quando meio Adélia invento um passado e mostro-me mulher madura Noutro dia sendo Clarice encontro mistérios em mim Florbela é o auge da intenção de desnudar-me sangrenta Brinco de inventar com o Rosa Simplifico sentimentos ao parecer Quintana Valso com Chico ao sentir-me mulher Drummond me ajuda a carregar o mundo E vou assim tal qual personagem sem rosto
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.
Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.
Te amo e não te amo como se tivesseem minhas mãos as chaves da fortunae um incerto destino desafortunado.
Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo."Cem sonetos de Amor"
Neruda
sábado, 22 de agosto de 2009
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras
Manoel de Barros
.In: Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro, Record, 2007. p. 61.
sábado, 15 de agosto de 2009
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
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