quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Para Fernanda e Isabela

A história chega numa dessas conversas de sempre
No meio da tarde, no encosto do sofá.
Voltamos às primeiras mulheres:
as da família.
Até onde vai a memória da herança
com suas vidas paradas no tempo?
Surpreendendo com seus traços em nós:
na expressão do olhar, no contorno do nariz.
Quando não se reconhece na mãe as argolas do cabelo,
as ancas mais salientes ou o gosto pela ciência...
estão todas em nós por sermos eternas.
Talhadas pelos dias e seus encontros sem querer.
Reconhecemos os cenários e seus cheiros,
os sons e uma névoa incoveniente.
O encanto pelos cavaleiros e astronautas
e os pergaminhos via internet.
Algumas marcas escolherão a hora de voltar.
Qual de nós a escolhida pelo gênio audacioso
ou pela doçura guardada no lenço de linho?
Para a sobrevivência, o pacto naturalmente feminino:
o de guardar a história das que não conheciam palavras,
até agora, a hora da descoberta do eterno:
do corpo e da alma,
da ciência e da poesia.
Numa dessas conversas de sempre
quando as filhas chegam e falam dos livros,
das mitocôndrias e mulheres.
Dulce

Para Leandro

Ele olhou para a folha toda escrita
e mesmo sem saber ler
afirmou ser poesia.
Acertou.
Seus olhos entenderam que poesia tem corpo.

Dulce

terça-feira, 25 de agosto de 2009


Saberás que não te amo e que te amo

posto que de dois modos é a vida,

a palavra é uma asa do silêncio,

o fogo tem uma metade de frio.

Eu te amo para começar a amar-te,

para recomeçar o infinito

e para não deixar de amar-te nunca:

por isso não te amo ainda.

Te amo e não te amo como se tivesseem minhas mãos as chaves da fortunae um incerto destino desafortunado.

Meu amor tem duas vidas para amar-te.

Por isso te amo quando não te amo

e por isso te amo quando te amo."Cem sonetos de Amor"


Neruda

sábado, 22 de agosto de 2009


Palavras apenas

Palavras pequenas

Palavras, momento
Palavras, palavras

Palavras, palavras

Palavras ao vento...


Palavras ao vento


Não acordei com vontade de falar alto


mesmo assim me obrigaram

Ninguém percebe quando quero ficar quieta

longe

mais perto de mim

Dulce

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Chagall

Amor é o que se aprende no limite,

depois de se arquivar toda ciência

herdada, ouvida. Amor começa tarde.


Drummond

terça-feira, 18 de agosto de 2009


Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:

Vou pertencer você para uma árvore.

E pertenceu-me.

Escuto o perfume dos rios.

Sei que a voz das águas tem sotaque azul.

Sei botar cílio nos silêncios.

Para encontrar o azul eu uso pássaros.

Só não desejo cair em sensatez.

Não quero a boa razão das coisas.

Quero o feitiço das palavras


Manoel de Barros

.In: Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro, Record, 2007. p. 61.

sábado, 15 de agosto de 2009

bom seria se fosse tudo verdade
se pelo menos um dia
a mágica do pensamento
virasse vida real
dulce
Mundo grande

sem rima nem solução

Maior meu desejo de saber

em qual medida se esconde

a palavra certa

a que faz tremer até o final do dia

que fica nos ouvidos

e não sai no banho

nem quando outras entram

macias

roçando no lençol

querendo ocupar lugar

A que vai e volta

sem dó


Dulce


quase sempre ele chega

no sonho ou na lida

mas ela ainda duvida

dulce

o sol quente no meu braço
trouxe notícias
lá de fora

dulce




sexta-feira, 14 de agosto de 2009


Chagall -O passeio

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Foto da Bel