quando vem vontade de escrita
mesmo mulher mais ocupada
senta e deixa palavra chegar
já disse ser igual parto
daquele que nem dá tempo de avisar
escorre água e nasce filho
e desse jeito mostra força
de resolver problema
pular muro se esquece chave
fazer macarrão pra acolher amigo que aparece já na porta
se é dia de demorar mais um pouco
para e pensa
mentira
pensa nada
só dá mais tempo
faz um pouco de força de pensamento vazio
e então ele enche
se derramando todo já na forma de letra
e letra puxa letra
palavra
verso pequeno
ou maior um pouco
tanto faz
mede não
gosta muito do improviso
de não ter que rimar final
nem colocar letra grande na palavra primeira
de dentro pra fora vem pro mundo
sem enfeite
nua
palavra mesmo
dando nome pra tudo
só nome
o primeiro
porque todas são da mesma família
e de sobrenome não precisam
assim
como força divina
basta um sopro pra começar
Uso palavras emprestadas para dizer quem sou Encontro sempre um modo de parecer quem quero Quando meio Adélia invento um passado e mostro-me mulher madura Noutro dia sendo Clarice encontro mistérios em mim Florbela é o auge da intenção de desnudar-me sangrenta Brinco de inventar com o Rosa Simplifico sentimentos ao parecer Quintana Valso com Chico ao sentir-me mulher Drummond me ajuda a carregar o mundo E vou assim tal qual personagem sem rosto
quinta-feira, 25 de junho de 2015
vivemos aos bocados
nunca chega a hora de ficar feliz
de satisfazer vontade boba
como parar no meio da tarde
e tomar café com leite
com pão quente
nada pode
cansada dessa coisa de depois
pra outra hora
de jeito diferente
quero não
hoje quero cozinhar aipim
comer quentinho com manteiga derretendo
deixar celular no quarto
pra não ouvir você chamar
mais una vez
hoje ouvir desculpas
quero não
nunca chega a hora de ficar feliz
de satisfazer vontade boba
como parar no meio da tarde
e tomar café com leite
com pão quente
nada pode
cansada dessa coisa de depois
pra outra hora
de jeito diferente
quero não
hoje quero cozinhar aipim
comer quentinho com manteiga derretendo
deixar celular no quarto
pra não ouvir você chamar
mais una vez
hoje ouvir desculpas
quero não
senhora de idade
conta história pra menino aprender o que é vida
aparece no fim de tarde
quando o fogão já sossegado espera hora de alimentar fim do dia
a velha gosta de falar
emenda um causo no outro
e ninguém se aborrece
todo mundo quer saber
quando chegou povo cigano na terra perto dali
como trouxeram carroça lotada de enfeite pra vender na feira
sem cansar cavalo
e a vó estima os dias de estrada
põe tinta forte nos desenhos
só de boca mesmo
sem papel
e traz o cheiro do perfume da moça de vestido vermelho
quem está por perto sente
não se tem como mentir
parece ficar na roupa
do jeito de mãe sentir quando se chega em casa
assim
a velha pega banco de madeira lustrosa
e senta pra não cansar
o joelho dói pelos anos de lida
mas a cabeça não se esquece de nada
tem lugar pra passado
sabe bem do presente
e confirma futuro que é uma beleza
se os meninos guardarem bem o que a vó diz
o tesouro passa de mãos
vai longe
como rio cortando o mato
conta história pra menino aprender o que é vida
aparece no fim de tarde
quando o fogão já sossegado espera hora de alimentar fim do dia
a velha gosta de falar
emenda um causo no outro
e ninguém se aborrece
todo mundo quer saber
quando chegou povo cigano na terra perto dali
como trouxeram carroça lotada de enfeite pra vender na feira
sem cansar cavalo
e a vó estima os dias de estrada
põe tinta forte nos desenhos
só de boca mesmo
sem papel
e traz o cheiro do perfume da moça de vestido vermelho
quem está por perto sente
não se tem como mentir
parece ficar na roupa
do jeito de mãe sentir quando se chega em casa
assim
a velha pega banco de madeira lustrosa
e senta pra não cansar
o joelho dói pelos anos de lida
mas a cabeça não se esquece de nada
tem lugar pra passado
sabe bem do presente
e confirma futuro que é uma beleza
se os meninos guardarem bem o que a vó diz
o tesouro passa de mãos
vai longe
como rio cortando o mato
Dulce Moura
quarta-feira, 17 de junho de 2015
se a menina soubesse do mal desse mundo
das armadilhas pra pegar pessoas de bem
talvez tivesse medo da rua
se o mundo soubesse do sorriso da menina
das brincadeiras na calçada a caminho de sua casa de fé
do cheiro bom da roupa branca lavada e passada com respeito
talvez tivesse protegido a menina da maldade
se a rua fosse de verdade de todos
e os corações servissem pra guardar histórias de amor
a menina e seus algozes naquela noite de sábado triste
talvez caminhassem do mesmo lado
sexta-feira, 12 de junho de 2015
senhora de idade
conta história pra menino aprender o que é vida
aparece no fim de tarde
quando o fogão já sossegado espera hora de alimentar fim do dia
a velha gosta de falar
emenda um causo no outro
e ninguém se aborrece
todo mundo quer saber
quando chegou povo cigano na terra perto dali
como trouxeram carroça lotada de enfeite pra vender na feira
sem cansar cavalo
e a vó estima os dias de estrada
põe tinta forte nos desenhos
só de boca mesmo
sem papel
e traz o cheiro do perfume da moça de vestido vermelho
quem está por perto sente
não se tem como mentir
parece ficar na roupa
do jeito de mãe sentir quando se chega em casa
assim
a velha pega banco de madeira lustrosa
e senta pra não cansar
o joelho dói pelos anos de lida
mas a cabeça não se esquece de nada
tem lugar pra passado
sabe bem do presente
e confirma futuro que é uma beleza
se os meninos guardarem bem o que a vó diz
o tesouro passa de mãos
vai longe
como rio cortando o mato
conta história pra menino aprender o que é vida
aparece no fim de tarde
quando o fogão já sossegado espera hora de alimentar fim do dia
a velha gosta de falar
emenda um causo no outro
e ninguém se aborrece
todo mundo quer saber
quando chegou povo cigano na terra perto dali
como trouxeram carroça lotada de enfeite pra vender na feira
sem cansar cavalo
e a vó estima os dias de estrada
põe tinta forte nos desenhos
só de boca mesmo
sem papel
e traz o cheiro do perfume da moça de vestido vermelho
quem está por perto sente
não se tem como mentir
parece ficar na roupa
do jeito de mãe sentir quando se chega em casa
assim
a velha pega banco de madeira lustrosa
e senta pra não cansar
o joelho dói pelos anos de lida
mas a cabeça não se esquece de nada
tem lugar pra passado
sabe bem do presente
e confirma futuro que é uma beleza
se os meninos guardarem bem o que a vó diz
o tesouro passa de mãos
vai longe
como rio cortando o mato
quando vem vontade de escrita
mesmo mulher mais ocupada
senta e deixa palavra chegar
já disse ser igual parto
daquele que nem dá tempo de avisar
escorre água e nasce filho
e desse jeito mostra força
de resolver problema
pular muro se esquece chave
fazer macarrão pra acolher amigo que aparece já na porta
se é dia de demorar mais um pouco
para e pensa
mentira
pensa nada
só dá mais tempo
faz um pouco de força de pensamento vazio
e então ele enche
se derramando todo já na forma de letra
e letra puxa letra
palavra
verso pequeno
ou maior um pouco
tanto faz
mede não
gosta muito do improviso
de não ter que rimar final
nem colocar letra grande na palavra primeira
de dentro pra fora vem pro mundo
sem enfeite
nua
palavra mesmo
dando nome pra tudo
só nome
o primeiro
porque todas são da mesma família
e de sobrenome não precisam
assim
como força divina
basta um sopro pra começar
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