quarta-feira, 3 de junho de 2009


Conto

Como era ainda menina não convencia muito em cima daquele salto tão alto. Parecia pisar em falso. Tão falso como a calça dos outros que vestia. Era bonita. Sabia do rebuliço que deixava quando passava pela esquina. Tudo que era homem olhava. Sempre foi assim. Desde muito pequena encantava. Dinheiro não tinha pra se enfeitar. A mãe trabalhava duro em casa de família. O pai fazia tempo já tinha se mandado. Também não queria nem saber. Tinha outros irmãos. Mesma mãe, outros pais. Ninguém estranhava isso por lá. Ora um, ora outro... O que não dava era pra mãe ficar sem homem, porque aí ninguém respeitava muito a casa. Pelo menos, era assim que se justificava. Beijou cedo, muito cedo. Não sabe ainda o que é amar de verdade. Aliás, de verdade quase nada acontece. Parece que tudo em volta é de mentira, A professora falou que a história era de ficção. Ficção!? Não entendia nada disso. Da diferença entre o sonho, aquele de quando se está dormindo, e a realidade...Isso sim!. Quantas vezes fechava os olhos e sonhava .Bom demais!!! Ali os pares eram perfeitos, as casa bonitas, tudo tinha seu lugar. A bagunça do real assustava , mas esperava o dia de baile. Sabia quando não era perigoso. Tudo era acertado antes. Era só escolher a roupa. Nem tinha muito lá o que escolher... Como quase tudo era dado pela patroa da mãe, o trabalho era encontrar o mais certo pro seu corpo. Tinha curvas a mais que as meninas da dona. Creme pro cabelo não podia faltar. Cheirava bem. Os garotos gostavam. Esperava até não poder mais a hora de subir. Era tudo amigo, ou quase tudo. Encontrava o pessoal da escola. Escolhia o par da vez e lá ia ela. Suava até não agüentar. Fugia dos homens com seus sexos a procura dela. Não queria assim. De manhã, com o baile acabado, podia dormir. Sabia que o tempo não ia poupar seu destino. Ouvia dizer que podia ser diferente. Uma coisa ou outra ainda entendia. O complicado era entender o caminho. Sabia daquele já andado pelas outras. Não era bonito. Só conhecido. Era bonita ainda. Bonita mesmo. Ainda sonhava.
Dulce Moura

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