terça-feira, 14 de setembro de 2010


Costureira. Foi assim que respondeu quando a assistente do médico lhe perguntou qual a sua ocupação. A filha ao lado estranhou. Muitas vezes já ouviu a mãe dizer que era 'do lar'. Do lar. Nem mais costurava. Os problemas de saúde recentes a afastaram de suas atividades mais urgentes . Não mais varria o quintal todo dia. Fazia a comida. Valorizava ainda o cheiro do refogado que ia longe,despertando a fome dos que estavam por ali. As andanças pelas ruas do bairro restringiram-se a ida ao mercadinho. Arriscava andar sozinha. A máquina de costura num canto do quarto. O marido também. Mal se falavam. Estranhavam-se. Filhas adultas com suas vidas cheias. Netas. Costureira. Da memória saiu a resposta. A mãe dela sim era costureira. Profissional. Ela herdou a habilidade. E quando mais precisou fez valer o legado.




dulce (Retalhos I)

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